Na última semana, Taylor Swift foi inocentada por um juiz americano das acusações do radialista David Mueller, o qual a processava a cantora por ter acabado com sua carreira, após ela ter denunciado que o homem havia apertado sua bunda durante um evento de fotos com fãs, realizado no dia 2 de junho de 2014. Mueller queria US$ 3 milhões de dólares, alegando difamação, o que acabou resultando na perda de seu emprego na Kygo-FM. Mas, de acordo com o juiz, ele não conseguiu reunir provas necessárias para a ação.
Não foi Taylor Swift quem deu início ao processo. Ela apenas denunciou o assédio que sofreu do radialista, o que fez com que a empresa onde ele trabalhava decidisse cortar os vínculos empregatícios – como qualquer companhia séria deveria fazer em casos de abuso contra uma pessoa. A cantora sequer buscava uma indenização: enquanto David a processou por US$ 3 milhões, ela o processou de volta por apenas US$ 1. Seu objetivo era o de provar que nenhuma mulher deveria passar o que ela passou e sofrer calada.
Mas silêncio foi basicamente o que Taylor recebeu por boa parte da mídia, que mal se manifestou sobre o assunto. Não só ela, o público, que também cobra posicionamentos das cantoras pop sobre feminismo e igualdade, também pouco, ou nem demonstrou interesse no caso. Não que todos sejamos obrigados a nos manifestar sobre tudo o que acontece no mundo, mas dadas as críticas que Katy Perry e Halsey receberam por fazer música com o trio de rappers Migos, era de se esperar ao menos que uma cantora que foi vítima de assédio recebesse mais apoio.
Eu reconheço que a voz de “Shake It Off” é problemática. Ela já foi acusada de se apropriar da cultura negra em um de seus clipes, acusada de racismo em outro deles, e de não se manifestar sobre a forma como o machismo afeta mulheres que não se parecem em nada como ela (branca, rica, heterossexual e cisgênera). Ainda assim, como muitas mulheres caminhando sobre o planeta, ela também foi vítima de uma das formas de violência e de controle do corpo feminino: o assédio sexual.
Na verdade, ela foi uma em várias. Segundo uma pesquisa divulgada pela organização internacional ActionAid, 86% das mulheres brasileiras já sofreram algum tipo de assédio (físico, sexual, emocional ou verbal) em espaços públicos. As consequências desses abusos têm reflexo na saúde física e emocional das mulheres, que podem vir a desenvolver transtornos de ansiedade, depressão, perda ou ganho de peso, estresse e problemas de sono, como aponta a organização Think Olga.
E vale dizer que a cantora acabou inocentada por algo que não fez. Aliás, algo que ela mesma disse durante o processo. Quando o advogado de David Mueller tentou culpabilizá-la pela perda de emprego de seu cliente, ela disse: “Eu não vou permitir com que ele me faça sentir como se isso fosse culpa minha, porque não é”. E continuou: “Aqui estamos nós, anos depois, e eu estou sendo culpada por eventos infelizes da vida dele, que são produtos das decisões deles, e não minhas”.
Portanto, não importa qual seja a sua opinião sobre a artista. Quando se trata de violência contra a mulher, ela não escolhe classe social, raça ou orientação sexual (embora alguns grupos sejam mais vulneráveis do que outros). É preciso que todos nós nos manifestemos, caso desejemos mesmo uma sociedade mais justa e igualitária para todos.
O caso da artista é um exemplo triste de que nenhuma mulher está mesmo a salvo, nem mesmo mulheres ricas como ela. Mas se algo podemos tirar alguma coisa desse caso, é que nenhuma mulher deveria ser vítima de assédio ou qualquer outro tipo de violência. E Taylor Swift está mesmo dando o exemplo disso, ainda que muitos não fiquem do seu lado.