O Grammy Awards acontece hoje à noite (28), em um ano em que as indicações ao prêmio mais importante da indústria fonográfica são majoritariamente masculinas.
Na categoria Álbum do Ano, Lorde é a única representante feminina, com seu álbum “Melodrama”. Em Gravação do Ano, nenhuma mulher aparece na lista. Já em Canção do Ano, Julia Michaels (“Issues”) e a parceria de Alessia Cara com o rapper Logic e Khalid são as únicas mulheres concorrendo a esse gramofone dourado. Contudo, as duas formam com SZA o trio de mulheres que disputam Artista Revelação.
Em um primeiro olhar, não parece que a desigualdade é grande entre homens e mulheres – exceto em Álbum e Gravação do Ano. Mas a verdade é que, fora dessas principais categorias, a quantidade de mulheres indicadas é menor. Produtor do Ano, por exemplo, não há nenhuma figura feminina entre os indicados. E na realidade, nenhuma mulher chegou a vencer nessa categoria, desde que ela teve início em 1975.
Embora 2017 tenha sido um ano difícil para mulheres emplacarem sucessos nas paradas musicais, a verdade é que a indústria musical dá a elas menos espaço e reconhecimento por seus trabalhos. O Grammy Awards não é exceção, pois entre 2013 e 2018, apenas 9,3% dos indicados ao prêmio eram mulheres.
É o que diz o estudo “Inclusão no Estúdio de Gravação?”, realizado pela Dra. Stacy L. Smith, do Annenberg Inclusion Initiative. O relatório inclui também um olhar sobre as músicas que entraram no top 100 da Billboard entre 2012 e 2017, e traz diversos pontos problemáticos no que diz respeito à diversidade de gênero na indústria musical.
Voltando ao Grammy, nesses 6 anos, foram indicadas 899 pessoas ao prêmio, sendo 90,7% deles homens e somente 9,3% mulheres, o que equivale a uma indicação feminina a cada 9,7 masculina. O ano de 2018 foi quase igual ao de 2013 em quantidade de indicações (8% contra 8,2%), mas melhor que o anterior: em 2017, apenas 6,4% dos indicados eram mulheres.
Dentre as principais categorias do Grammy que mais possuem mulheres indicadas, Artista Revelação (36,4%) e Canção do Ano (21,3%) saíram na frente. Em contraste, Álbum do Ano (6,1%) e Produtor do Ano (0) são as que menos tiveram concorrentes femininas. No geral, 471 homens (89%) foram indicados mais de uma vez ao Grammy, enquanto apenas 58 mulheres (11%) foram indicadas mais de uma vez ao prêmio nos últimos seis anos.
A raça dos indicados também foi verificada: 30,9% das mulheres indicadas eram de minorias étnicas. Mulheres brancas e mulheres de minorias étnicas tiveram quase o mesmo percentual em Álbum do Ano (51,6% contra 48,4%). Porém, nas outras categorias, elas foram superadas em muito maior número por suas colegas brancas (exceto Produtor do Ano, que não teve nenhuma mulher indicada entre 2013 e 2018). Ainda analisando raça, tanto mulheres brancas quanto de minorias étnicas têm basicamente as mesmas chances de serem indicadas apenas uma vez à premiação.
Com resultados tão tristes, vale a pena torcer pelas mulheres indicados ao Grammy deste ano. Especialmente nas categorias Melhor Música de Rap e Melhor Performance de Rap, as quais possuem Cardi B entre os indicados. Em ambas as categorias, nenhuma mulher foi vencedora até hoje. Com os resultados positivos e recordes quebrados pela cantora e seu hit “Bodak Yellow”, seria mais do que justo ela sair vencedora.
E embora os dois últimos Álbuns do Ano tenham parado nas mãos de mulheres brancas (Taylor Swift com “1989” e Adele com “25”), também seria positivo que Lorde e seu “Melodrama” ganhassem o prêmio mais cobiçado da noite. Porém, já faz bons anos desde que um artista negro não vence nessa categoria, e como há 4 negros na disputa, seria igualmente representativo e poderoso que um deles vencesse.
Descobertas sobre as paradas musicais:
- entre 2012 e 2017, 600 músicas de 1.239 artistas entraram no Top 100 da Billboard. Apenas em 2017, 83,2% deles eram homens e apenas 16,8% mulheres;
- o melhor ano para as mulheres na parada musical foi em 2016, quando 28,1% dela era formada por artistas femininas;
- os gêneros musicais com mais mulheres foram o pop (64%), hip-hop/rap (11,%) e o eletrônico (8,3%);
- o gênero com menos mulheres foi o R&B/soul, com apenas 2,2%;
- 58,8% das músicas foram creditadas a artistas solo, 33,3% a bandas e 7,9% a duplas. Colaborações foram 19,9%
- 32,5% dos artistas solo eram mulheres em 2017, enquanto 8,7% estavam em bandas e 5,1% em duplas;
- os 1.239 artistas correspondem a 496 artistas que apareceram mais de uma vez nos charts;
- 115 artistas masculinos chegaram ter músicas em primeiro lugar no Top 100, enquanto 46 foram mulheres;
- os artistas masculinos que conseguiram colocar mais músicas no Top 100 foram Drake (25), Justin Bieber (12) e Chris Brown e Calvin Harris (12 cada);
- as artistas femininas que conseguiram colocar mais músicas no Top 100 foram Rihanna (20), Nicki Minaj (16) e Taylor Swift (11);
- dos 1.239 artistas, 42% eram de minorias étnicas;
- em 2017, 51,7% dos artistas com músicas no Top 100 eram de minorias étnicas;
- são 413 (ou 79,4%) homens de minorias étnicas, contra 107 (ou 20,6%) mulheres;
- dos 2.767 compositores, 87,7% deles eram homens, enquanto 12,3% eram mulheres;
- 2015 foi o ano com mais mulheres compositoras: 13,7%;
- 40,2% das mulheres compositoras eram de minorias étnicas;
- 60,1% das mulheres compositoras trabalharam em músicas pop e 14,7% em hip-hop/rap;
- com créditos únicos em uma canção, o estudo diminuiu os 2.767 compositores para 1.322 pessoas. 1.158 (ou 87,6%) eram homens e mulheres foram 164 (ou 12,4%);
- 73,8% das mulheres escreveram apenas uma música entre 2012 e 2017;
- 7,9% trabalharam duas vezes e 4,3% trabalharam 3 vezes;
- 70% dos homens escreveram uma única música no período, 12,4% trabalharam duas vezes e 6,4% trabalharam 6 ou mais vezes;
- os compositores masculinos com mais créditos em canções são: Max Martin (36), Drake (25)e Benny Blanco (22);
- as mulheres com mais créditos são: Nicki Minaj (15), Rihanna (13) e Taylor Swift (11);
- das nove mulheres compositoras, 44,4% eram de minorias étnicas, em contraste com 22,2% dos homens de minorias étnicas;
- os nove homens compositores são responsáveis por 19,2% das músicas que entraram no Top 100 da Billboard nos últimos seis anos;
- para o estudo, foram analisados os 100 produtores dos anos de 2012, 2015 e 2017. Produtores que trabalharam mais de uma vez foram excluídos da análise. O resultado: das 300 músicas, 651 pessoas trabalharam como produtoras. Desse total, 98% eram homens e somente 2% mulheres;
- os resultados de 2012 e 2017 são basicamente os mesmos (2,4% contra 2%);
- das 300 músicas que entraram no Top 100, 287 (ou 95,7%) foram produzidas por homens;
- apenas duas mulheres eram de minorias étnicas: Beyoncé e Ester Dean;
- 9 mulheres foram listadas como produtoras, 1 como co-produtora, 3 como produtoras-vocais. 6 das 13 produtoras trabalharam como cantoras e compositoras.
O estudo completo pode ser conferido aqui.